Caetano Veloso comenta ‘reação fria’ do público a louvor em turnê e fala sobre novas músicas

Enquanto viaja com apresentações solo por festivais pelo país, o cantor de 82 anos diz que músicas se esboçam espontaneamente em sua cabeça. Ele conta, em entrevista ao g1:

“Tenho vontade de fazer canções que enfrentem a grande virada que o mundo está iniciando.”

A ideia é que essas composições deem origem a um novo álbum de inéditas. Será o sucessor de “Meu Coco”, lançado em 2021, com letras repletas de citações a outros artistas. Lá, Caetano fala em Ferrugem, Glória Groove, Marília Mendonça, Djonga, MC Cabelinho e até Billie Eilish.

Ele ainda está atento ao que é produzido pela nova geração da música, e lista nomes que têm influenciado suas criações mais recentes: “O canto aveludado e inteligentemente musical de Jota.pê”; “o domínio da música e a inspiração potente de Dora Morelenbaum”; “a segurança de músico do garoto cantor Zé Ibarra”.

“Venho há anos falando sobre Thiago Amud — e recentemente gravei com ele uma faixa em seu novo disco. E há muita coisa mais por aí. Veja a cantora baiana Xênia França cantando com Amaro Freitas, aquele extraordinário pianista de Pernambuco…”

Maria Bethânia e Caetano Veloso em show da turnê “Caetano & Bethânia” — Foto: Divulgação

Uma das canções inéditas de Caetano já pode ser ouvida em “CAE ⟷ BTH”, álbum ao vivo com o registro da turnê com Bethânia. Entre as 42 músicas em 33 faixas, o samba-reggae “Um Baiana” é novidade até para a maior parte do público que assistiu aos shows dos irmãos — ela entrou somente na penúltima apresentação da série.

A letra é uma espécie de oração pela paz, e tem uma citação à banda Baiana System, fenômeno de popularidade no carnaval de Salvador. O cantor explica:

“O mundo está em situação que sugere terceira guerra mundial. Eu não queria terminar a turnê com Bethânia sem que cantássemos uma canção orando pela paz.”

“Cito o Baiana System porque esse grupo arrasta milhões na Bahia e faz com que a animação não descambe para a violência.”

Louvor evangélico

Além do disco, a turnê dos irmãos, encerrada em março deste ano, gerou uma controvérsia: a inclusão do louvor evangélico “Deus Cuida de Mim” no repertório dos shows. A canção do pastor Kleber Lucas tem versão gravada em parceria com Caetano, que foi lançada em 2022. O artista avalia:

“Sabia que plateias de shows meus com Bethânia não seriam compostas de maiorias evangélicas. Percebia a reação fria da maioria do público, mas me concentrava na canção. Mas via também poucas pessoas cantarem o louvor comigo, algumas chorando.”

Caetano Veloso e Kleber Lucas cantam juntos, em parceria inédita

Nas apresentações, Caetano pontuou o “interesse” pelo crescimento do movimento cristão entre os brasileiros. “Quis chamar a atenção para a necessidade de consciência da grandeza do fenômeno evangélico na nossa sociedade”, explica.

Apesar de ter sido criado em família católica, Caetano não é religioso. Costuma dizer que já foi até “antirreligioso” na juventude, mas, ao longo da carreira, sempre foi aberto a mudanças de opinião.

Tem sido assim também com sua estratégia para os próximos anos. Em 2023, ele escreveu nas redes sociais sobre o desejo de voltar a viver na Bahia e fazer apenas shows por lá. “E que venha à minha terra quem quiser me ver e ouvir”, disse, na época.

“Ainda existe algo desse plano”, o cantor diz agora, ao g1. “Mas meus três filhos e meus três netos cresceram e vivem no Rio, assim fica difícil sair daqui.”

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