Indústria pede ação do governo após tarifas de Trump sobre aço e alumínio

O setor defende a retomada do sistema de cotas e cobra ação do governo brasileiro nas negociações.

“Ressaltamos a importância da atuação do governo brasileiro, por meio dos Ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), para reestabelecer o acordo bilateral de 2018, que permitia exportações sem tarifa, dentro de cotas”, diz nota da entidade.

No ano passado, o Brasil exportou 9,571 milhões de toneladas de aço, das quais 4,018 milhões – 42% – tiveram como destino o mercado americano.

Sistema de cotas

Até março, o Brasil podia exportar para os EUA até 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de produtos acabados por ano, sem taxação adicional.

Essa isenção acabou quando os EUA, sob gestão Donald Trump, impuseram tarifa de 25%, agora elevada para 50%.

Segundo o Instituto Aço Brasil, a tarifa já provocou uma queda de 10% a 15% nas exportações brasileiras para os EUA, que são o maior comprador de aço semiacabado brasileiro. Só em 2024, os americanos importaram 5,6 milhões de toneladas de placas de aço, sendo 3,5 milhões vindas do Brasil.

A situação lembra 2018, quando o governo Trump impôs tarifa semelhante. Na época, o Brasil conseguiu negociar um acordo que permitia exportações dentro de cotas.

Em relação à crise atual, o instituto elogia a atuação do governo brasileiro – e acredita que as negociações em andamento vão prosperar.

“Acreditamos que seja possível repetir a negociação agora”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto.

Há três fatores que, segundo a entidade, favorecem o Brasil:

  1. os Estados Unidos precisam dessas placas de aço semiacabados para produzir, por lá, itens acabados;
  2. o Brasil segue comprando carvão metalúrgico dos EUA, mesmo com a mudança de tarifas;
  3. a balança comercial entre os dois países é favorável para os Estados Unidos – ou seja, mesmo levando o aço em conta, os EUA exportam para o Brasil mais do que importam

“Isso leva a crer que o sistema de cotas possa ser restabelecido”, diz Marco Polo.

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Alerta de desvio comercial

Além da preocupação com os EUA, o setor teme um desvio de comércio que pode levar ao aumento de importações predatórias no Brasil.

“O mercado brasileiro já está sendo inundado. Com essa medida dos EUA, o risco aumenta ainda mais”, afirma Marco Polo.

O Instituto estima que o Brasil importará 5,3 milhões de toneladas de aço laminado neste ano. Desse total, a China deve participar com 76,1%.

“Precisamos proteger urgentemente nosso mercado”, disse o presidente da entidade. Ele defende medidas de defesa comercial e a aplicação de tarifas antidumping.

Governo brasileiro quer negociar

Procurado, o Ministério da Indústria e Comércio disse que pretende aprofundar as negociações com os EUA. O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin lamentou o aumento da tarifa, mas defendeu o diálogo:

“Lamento, mas o caminho é incentivar o diálogo. Já criamos um grupo de trabalho com o USTR [escritório de comércio dos EUA], e vamos aprofundar isso”, disse Alckmin nesta quarta (5), durante evento em Minas Gerais.

Tarifas de Trump têm levado à escalada de guerra comercial global. — Foto: Getty Images via BBC

O vice lembrou que há uma complementaridade econômica entre os países:

“Nós somos o segundo maior comprador de carvão siderúrgico dos EUA, e eles usam nossas placas para produzir motores, carros, aviões. Não somos problema para os EUA.”

Alckmin afirmou ainda que o Brasil renovou 19 NCMs do aço (códigos usados para identificar produtos) e incluiu mais 4, conhecidas como “NCMs de fuga”, que permitem ações de defesa comercial contra importações predatórias.

Entenda a tarifa

A nova tarifa de 50% foi imposta unilateralmente pelos EUA como forma de proteger sua indústria local.

A Inglaterra foi o único país isento, por ter acordo bilateral.

A decisão é vista por analistas como uma retomada de medidas protecionistas semelhantes às aplicadas por Trump em 2018.

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