Título: Silêncio de um minuto
♬ Três anos lançar o álbum Aquele abraço, Gilberto Gil – Canções de Gilberto Gil (2022) com abordagem da obra do compositor baiano que então festejava 80 anos, o cantor mineiro Moisés Navarro se volta para o cancioneiro de Noel Rosa.
Compositor de importância fundamental para a consolidação do samba no Rio de Janeiro (RJ) nos anos 1930, década em que o gênero propiciou a primeira integração entre morro e asfalto na cidade partida desde antes de o samba ser samba, o carioca Noel de Medeiros Rosa (11 de dezembro de 1910 – 4 de maio de 1937) deixou grande obra de contornos urbanos, pautada pelo samba e pelo samba-canção.
Em Silêncio de um minuto, álbum que lançará na próxima sexta-feira, 13 de junho, em edição digital e em CD fabricado pela Companhia de Discos do Brasil, Moisés Navarro canta Noel Rosa sem um lampejo de modernidade ou brilho especial nas interpretações, como atestam os registros dos sambas-canção Meu barracão (1934) e Último desejo (1937), ambos gravados com o toque das sete cordas do violão de Gustavo Monteiro.
Não obstante, o álbum Silêncio de um minuto se revela correto e por vezes elegante dentro das tradições. A elegância reside no samba-canção que dá nome ao disco, Silêncio de um minuto (1935), cantado por Navarro com Romulo Fróes em gravação de tom sóbrio, quase soturno. A letra alinha versos alusivos à poética comumente melancólica do cancioneiro de Noel.
Com produção musical e arranjos de Ricardo Gomes (violão, baixo, teclados e guitarra), o álbum Silêncio de um minuto se aviva com as presenças dos cinco ótimos convidados. Voz que simboliza a ancestralidade mineira, Maurício Tizumba dá cor viva a um samba sobre a morte, Fita amarela (1933), deitando e rolando no suingue dessa faixa de introdução fúnebre.
Com notória intimidade com o samba-canção, Claudette Soares imprime a maciez vocal em Feitio de oração (Noel Rosa e Vadico, 1933), clássico entre os clássicos de Noel que Navarro aborda em tom mais expansivo em desalinho com o canto da convidada. Um dos primeiros sucessos do compositor, Com que roupa? (1929) cai bem no canto extrovertido de Maria Alcina.
Samba-canção menos ouvido dentro do conjunto da obra, mas tão belo quanto os standards, Quando o samba acabou (1933) ganha a adição da voz classuda de Alaíde Costa.
A melancolia de Três apitos (1933) é soprada pelo trompete de Hilton Lima – músico conhecido como com Galego – em gravação pautada pelo piano de Ricardo Bottaro. Nesse samba-canção, Moisés Navarro oferece a melhor interpretação do disco juntamente com o canto da música-título do álbum.
No fim do álbum Silêncio de um minuto, os cantos dos sambas Palpite infeliz (1935) – este embasado pela batida quase marcial da bateria de Jeftã Jeff – e Até amanhã (1933) reiteram a obviedade da seleção de repertório calcado em sucessos. Nesse sentido, o tributo de Moisés Navarro a Gilberto Gil resultou bem mais surpreendente.
Moisés Navarro canta dez músicas de Noel Rosa (1910 – 1937) no álbum ‘Silêncio de um minuto’ — Foto: Samuca Kim / Divulgação