Projeto de teatro ocupa bairros da periferia de Belém com crítica e humor

Serão seis apresentações gratuitas em cinco dias, ocupando praças, avenidas e centros culturais de bairros como Vila da Barca, Icoaraci, Sacramenta e Cabanagem. O projeto foi contemplado pelo Edital 2024 de Multilinguagens da Lei Aldir Blanc (PNAB – Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura).

“A gente acredita que cultura é um direito e que ela precisa estar onde o povo está”, afirma o ator e dramaturgo Leonel Ferreira, integrante da Cia. Madalenas.

“As pessoas que vivem na periferia muitas vezes não acessam os equipamentos culturais do centro da cidade. Levar teatro às ruas desses territórios é devolver à população aquilo que é dela.”

O rei vive preso em sua fantasia de luxo, enquanto ignora o cenário de destroços e decadência — Foto: Divulgação

Teatro que dialoga com a realidade

Criado durante a pandemia, “Fashion Fake” parte de uma crítica ao cenário político dos últimos anos, com foco no uso das fake news, vaidade e omissão do poder público. Ambientado na fictícia Brasilândia, o espetáculo acompanha um rei preocupado apenas com suas roupas, enquanto o povo lida com as dificuldades cotidianas.

“É uma sátira que usa o riso para refletir sobre consumo, moda e desigualdade. E fazer isso na rua, no contato direto com o público, não tem preço”, diz Leonel.

Fundada há cerca de 25 anos, a Cia. de Teatro As Madalenas é um dos grupos teatrais mais atuantes e combativos da cena cultural de Belém do Pará, com uma trajetória marcada pela fusão entre arte e engajamento social, humor e crítica, teatro popular e intervenção urbana.

Desde suas origens, a companhia se posiciona artisticamente com forte presença nas periferias da cidade, tanto através de projetos sociais quanto por meio da escolha consciente de ocupar espaços alternativos ao palco tradicional — como praças, escolas, comunidades ribeirinhas e ocupações culturais.

Poética construída nas margens

Embora ensaie e mantenha parte de suas atividades no centro de Belém, grande parte do elenco e da equipe das Madalenas vem de bairros periféricos como Guamá, Jurunas, Canudos, Coqueiro e Guajará. Essa origem coletiva molda o olhar da companhia e o compromisso com temas sociais, questões de classe, identidade amazônica e valorização da cultura popular.

“Somos filhos e filhas de trabalhadores. Nossos corpos, nossas histórias, nos conectam com a cidade real, com os territórios de onde viemos. E o nosso teatro parte desse lugar”, afirma Leonel.

Comunidade como palco

A primeira apresentação será na Vila da Barca, um território ribeirinho e símbolo de resistência e mobilização cultural. A escolha do local para abrir a temporada é emblemática para o grupo, que tinha uma apresentação marcada na comunidade em 2020, adiada pela pandemia.

“Estamos em débito com a Vila da Barca. Agora é a hora do reencontro. É um território de luta, e o nosso teatro está com eles”, afirma Leonel, destacando ainda a participação do músico e liderança comunitária Pawer Martins, morador da Vila e integrante do espetáculo.

O espetáculo segue seu percurso até dia 29 de maio, com apresentações em Icoaraci, Sacramenta e Cabanagem. Além de Pawer e Leonel, o elenco reúne artistas das companhias As Madalenas, Grupo Folhas de Papel e Casarão do Boneco, entre eles AJ Takashi, Taís Sawaki, Juliana Tourinho, Marta Ferreira e Diego Vattos. A direção é assinada por Adriana Cruz.

Programação completa:

  • 24/05 (19h) – Vila da Barca (Telégrafo)
  • 25/05 (19h) – Estação Cultural de Icoaraci
  • 27/05 (19h) – Praça Eduardo Angelim (Pedreira)
  • 28/05 (19h) – Praça Eduardo Angelim (Pedreira)
  • 29/05 (10h e 15h) – Usina da Paz (Cabanagem)

Todas as apresentações são gratuitas, abertas ao público e contarão com intérpretes de Libras.

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