sexta-feira, maio 30, 2025
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Rubel anda duas casas para trás para recuperar a essência nas fragilidades e belezas de álbum íntimo e reflexivo

por admin
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Título: Beleza. Mas agora o que a gente faz com isso?

♬ “Viver é perigoso. E é muito melhor que morrer. Cantar parece com não morrer, como já disseram. Acredito que me reconciliei um pouco com meu canto também nesse disco”, avalia Rubel, citando verso de Ednardo em Enquanto engoma a calça (1979), em texto em que discorre em rede social sobre o quarto álbum de estúdio do artista fluminense, Beleza. Mas agora o que a gente faz com que isso?, no mundo desde as 21h de quarta-feira, 28 de maio.

Rubel está vivo. Sobreviveu a uma cirurgia feita em junho de 2023 para eliminar o perigo de um sopro no coração. A cirurgia aconteceu três meses após o lançamento do álbum duplo As palavras vol. 1 e As palavras vol. 2 (2023), ambiciosos discos gêmeos em que o cantor e compositor se aventurou por gêneros musicais brasileiros como samba e ritmos nordestinos.

Os discos são bons, mas talvez não traduzissem a essência musical de Rubel. Tanto que o cantor volta para Casas (2018) em Beleza. Mas agora o que a gente faz com que isso? – e também para Pearls (2013), álbum de estreia.

Em bom português, isso quer dizer que Rubel retorna para um minimalismo introspectivo, para um violão que reverencia João Gilberto (1931 – 2019) e para um tom reflexivo que roça a melancolia, nem tanto pelas palavras que divagam sobre o amor, o tempo e a vida, mas pelo tom cool do álbum.

Tudo isso já está sinalizado em Feiticeiro gozador, primeira das nove faixas de disco calcado no violão mas sem ser um disco de voz e violão. Há o piano de Antonio Guerra. Há as cordas e os sopros orquestrados por Henrique Balbino. E há a tentativa vã (e talvez involuntária) de ecoar em Ouro o hit Partilhar (2018) nos versos do refrão “Ouro no pescoço / Qualquer coisa vira ouro com você”. O arranjo de Ouro soa com sinfonia singela que cresce e incorpora instrumentos à medida em que os cinco minutos da gravação.

Versão em português de A la ventana, Carolina (2017), tema do repertório do cantor e compositor mexicano El David Aguilar, A Janela, Carolina tangencia a forma de samba-canção encabulado e quase triste como os olhos da Carolina de Chico Buarque.

Já a autoral Azul, bebê reverbera certa influência de Tim Bernardes, artista exponencial da geração indie projetada ao longo dos anos 2010, enquanto Pergunta ao tempo dialoga explicitamente com o bolero Resposta ao tempo (Cristovão Bastos e Aldir Blanc, 2018), sucesso blockbuster na voz de Nana Caymmi (1941 – 2025), ecoando na letra o questionamento geracional de Como nossos pais (Belchior, 1976).

Há belezas neste álbum em que Rubel apresenta canções de apartamento nascidas no quarto do artista e depois formatadas em estúdio. Há belezas no arranjo e no sopro que envolve Noite de réveillon, na atmosfera das cordas recorrentes, enfim, há beleza na ambiência do álbum.

Contudo, paira a sensação de que o pulso melódico do compositor é bem mais fraco do que o fluxo de reflexões e sentimentos impressos por Rubel nas letras confessionais e, nesse sentido, Beleza. Mas agora o que a gente faz com que isso? é álbum afinado com a geração do artista.

Carta de Maria parece se banhar nas águas sagradas da ciranda sem quebrar o clima do álbum. “Eu nasci para viver, não para me salvar”, ressalta Rubel em versos da primeira letra que escreveu sob ótica feminina.

Na sequência, Praticar a teimosia reitera a elegância dos arranjos de cordas, do toque econômico do piano de Antonio Guerra e da atmosfera íntima e pessoal do disco mixado por João Milliet e masterizado por Felipe Tichauer.

No arremate do álbum, Rubel exercita bem o falsete para dar voz a Reckoner (Colin Greenwood, Jonny Greenwood, Ed O’Brien, Philip Selway e Thom Yorke, 2007), música do sétimo álbum de estúdio da banda britânica Radiohead, In rainbows (2007), em gravação com cordas arranjadas por Arthur Verocai.

É bonito ouvir Rubel ecoando Caetano Veloso. Mas agora o que a gente faz com esse disco de título longo e estranho em que Rubel parece ter andado duas casas para trás para recuperar uma essência autoral abafada pela artificialidade da (boa) guinada brasileira do disco anterior? Talvez o que há para fazer seja aplaudir um artista que se reconciliou com o próprio canto e, mesmo com limites para criar boas melodias, escreveu um disco sincero.

Rubel regrava música do grupo Radiohead e ecoa influências de João Gilberto (1931 – 2019) e Tim Bernardes no quarto álbum de estúdio — Foto: Bruna Sussekind / Divulgação

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