O psicólogo social norte-americano Jonathan Haidt estuda há anos o impacto do uso excessivo das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes. Um fenômeno que, segundo ele, causou uma epidemia de transtornos mentais nessa faixa etária. Ele vem ao Brasil para debater esse tema no Fronteiras do Pensamento, marcado para o próximo dia 19 de maio, em São Paulo.
“Quando olhamos para os dados autorrelatados de adolescentes, temos dados muito bons nos Estados Unidos que remontam à década de 1970. Portanto, não vemos realmente altos ou baixos, nenhuma mudança real de 1990 a 2010, até 2011, não há sinal de mudança”, disse Haidt ao CNN Entrevistas.
“E então, de repente, os números começam a subir muito, muito rapidamente por volta de 2013, 2012. E isso acontece em muitos países ao mesmo tempo. E se fossem apenas mudanças na forma como diagnosticamos as coisas, bem, então, não veríamos isso sendo estável até um ano e depois, de repente, subindo. Mais importante ainda, quando olhamos para comportamentos que não são autorrelatados, que nem sequer são diagnosticados, coisas como automutilação. Na América, temos dados muito bons sobre quem vai para um hospital e por quê. E assim podemos ver que a porcentagem de adolescentes que vão para um hospital porque se machucaram”, diz.
A pesquisa de Haidt sobre a relação entre saúde mental e o uso de redes sociais virou tema do livro “A geração ansiosa”, que figura na lista dos mais vendidos há mais de um ano. Nele, o autor destaca que esse é um problema que precisa ser enfrentado de forma coletiva.
“Cada um de nós como pais quer dizer: ‘Não, você não pode ter uma conta no Instagram aos 11 anos’. Mas nossa filha diz: ‘Mas, pai, todo mundo na minha sala está no Instagram. Eu ficarei excluída’. E, então, a maioria de nós acaba cedendo. Eu não cedi, mantive meus filhos fora das redes sociais apesar dos problemas que isso gerou para eles. É um problema de ação coletiva. Estamos presos como indivíduos, mas se agirmos juntos, podemos escapar.”
Jonathan Haidt também diz que a responsabilidade não é só dos pais.
“Os pais precisam mudar seu comportamento, mas a maioria de nós está enfrentando dificuldades, e se tantos de nós estão passando por isso e é tão difícil manter os filhos longe, talvez a culpa seja dos fabricantes de dispositivos, dos desenvolvedores de aplicativos e da total ausência de regulamentação até agora.”
Além de Jonathan Haidt, o Fronteiras do Pensamento irá receber a escritora Chimamanda Ngozi Adichie e o neurocientista António Damásio. A CNN Brasil é media partner do evento.