segunda-feira, maio 26, 2025
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Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho premiados em Cannes: os bastidores da campanha de sucesso de ‘O Agente Secreto’ no festival

por admin
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Foi a primeira vez que um filme brasileiro levou o Cannes de melhor ator.

A expectativa de que O Agente Secreto fosse premiado na cerimônia cresceu na última semana, depois de ter sido ovacionado por mais de dez minutos na sessão de estreia, em 18 de maio, e de ter saído do evento com dois acordos de distribuição fechados.

A Neon, que lançou Parasita e Anatomia de uma Queda, agora responde pela distribuição norte-americana de O Agente Secreto. Já a Mubi, que distribuiu Anora, será responsável pela exibição no Reino Unido, Índia e América Latina, exceto o Brasil.

Antes da entrega da láurea principal neste sábado, o filme também venceu um dos prêmios paralelos do festival: o de melhor da seleção oficial pelo júri da Fipresci, principal associação de críticos de cinema do mundo.

A associação reúne jornalistas de cerca de 50 países e é a responsável por essa premiação, que não faz parte da lista oficial de Cannes e foi criada por críticos de forma paralela.

“Escolhemos um filme que tem uma generosidade romanística e épica; um filme que permite digressão, diversão, humor e caráter para evocar um tempo, um lugar e uma história rica, estranha e profundamente preocupante de corrupção e opressão”, justificou o juri sobre sua escolha, anunciada na manhã deste sábado (24)

Mendonça Filho já é um nome consolidado em Cannes. Seus três últimos longas — Aquarius (2016), Bacurau (2019) e Retratos Fantasmas (2023) — foram exibidos no festival.

Bacurau, inclusive, venceu o Prêmio do Júri, terceira categoria mais importante da competição oficial.

Ambientado em Recife em 1977, durante a ditadura militar brasileira, O Agente Secreto acompanha Marcelo, interpretado por Wagner Moura, um especialista em tecnologia que retorna a Recife após anos fora em busca de paz. Mas ele descobre que sua cidade natal esconde perigos e segredos inquietantes.

A recepção da crítica foi elogiosa. A Variety destacou a capacidade do diretor de “nos transportar de volta àquela época, com seu calor opressivo e paranoia”. O crítico da BBC, Nicholas Barber, classificou o filme como um “thriller político estiloso e vibrante” e um possível candidato ao Oscar.

A expectativa para o título em Cannes já se desenhava desde a montagem da obra, segundo Silvia Cruz, fundadora da Vitrine Filmes, que distribui os filmes do diretor no Brasil desde 2016.

“Desde o início, já pensávamos que esse seria o primeiro festival que iríamos tentar, tanto pelo histórico dos outros filmes do Kleber [no evento] quanto pelo cronograma de finalização, perfeito para estar pronto a tempo”, diz.

O festival exige que o filme seja inédito, ou seja, nunca tenha sido exibido em outros festivais internacionais ou na internet, para participar da competição pela Palma de Ouro.

“Cannes é uma vitrine poderosa. Entrar nesse festival certamente traz visibilidade. Estar em Cannes já impulsiona toda a carreira do filme.”

Frevo na Croisette

Um dos momentos mais comentados do festival foi a passagem da Orquestra Popular do Recife e do grupo Guerreiros do Passo pelo tapete vermelho.

(Da esquerda para a direita) Roney Villela, a atriz brasileira Hermila Guedes, a atriz portuguesa Isabel Zuaa, o produtor brasileiro Fred Burle, o ator Carlos Francisco, a atriz brasileira Alice Carvalho, a atriz brasileira Maria Fernanda Candido, o ator brasileiro Gabriel Leone, o ator e produtor brasileiro Wagner Moura, a produtora francesa Emilie Lesclaux, o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, o coprodutor holandês Erik Glijnis, o ator Roberio Diogenes, a produtora executiva britânica Fionnuala Jamison e o produtor executivo francês Nathanael Karmitz chegam para a exibição do filme “O Agente Secreto” na 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, em Cannes, sul da França, em 18 de maio de 2025. — Foto: Antonin THUILLIER / AFP

O vídeo do cortejo dos passistas com a comitiva brasileira, incluindo o ator Wagner Moura — protagonista do filme — arriscando passos de frevo, viralizou nas redes sociais.

A proposta de levar o frevo para a famosa avenida Croisette partiu da própria equipe de distribuição da Vitrine Filmes durante a montagem de O Agente Secreto.

“Um dia me veio essa ideia: ‘E se a gente fizesse um carnaval em Cannes?'”, conta Bernardo Lessa, gerente de lançamento da distribuidora.

“Já sabíamos que o Brasil seria o país homenageado do ano. Tínhamos algumas indicações favoráveis. Tentamos várias marcas, vários parceiros — recebemos muitos ‘nãos’. Mas não queríamos desistir, porque sabíamos que podia dar certo.”

O plano ganhou forma com o patrocínio da Embratur, da Secretaria de Cultura de Pernambuco e da marca Sol de Janeiro.

“Ninguém da banda tinha passaporte. A confirmação do investimento veio pouco tempo antes, então tivemos que correr com tudo. Não era só trazer a banda, mas trazer a cultura: o bolo de rolo, a música, as sombrinhas de frevo. Foi toda uma produção. E o resultado foi muito maior do que a gente esperava”, diz Lessa.

“Cannes foi muito bom para o filme — a recepção foi excelente. Ele já foi comprado pela Neon e pela Mubi. Isso é ótimo porque já dá para os produtores uma garantia de retorno financeiro e também de distribuição. Principalmente nos Estados Unidos, onde, quando falamos das maiores premiações, é muito importante ter um distribuidor americano”, explica.

Intervenção no tapete vermelho não é novidade, inclusive para promover mensagens políticas. O próprio Kleber Mendonça Filho, no lançamento de Aquarius, utilizou o espaço privilegiado de Cannes para protestar contra o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016.

O marketing digital é uma ferramenta usada para ampliar a distribuição do filme, diz a jornalista Ana Paula Sousa, pesquisadora e colunista especializada em cultura.

“A partir do momento em que o filme leva o frevo para o tapete vermelho, aumenta a chance de sair matéria num veículo de outro país falando sobre isso. Eventualmente, o distribuidor de outro país vai ter interesse no filme”, afirma.

“Vivemos a era das redes sociais. E acho que o Kleber, embora seja um cineasta ligado ao que se costuma chamar de ‘cinema de autor’, já mostrou há muito tempo que sabe lidar muito bem com as redes.”

A estratégia, segundo Sousa, ainda aguça a curiosidade do público que, mesmo antes do lançamento do primeiro trailer, já começa a falar sobre a produção.

“Um filme é feito para ser visto por diferentes públicos — mas sempre para ser visto. Ele tem que mobilizar a atenção do público”, diz.

Ela lembra que a campanha de sucesso de Ainda Estou Aqui, que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional e levou quase 6 milhões de brasileiros aos cinemas, começou no Festival de Veneza.

“É natural que o filme do Kleber tente também se aproveitar desse bom momento do cinema brasileiro”, afirma a pesquisadora.

“Não é que essa estratégia cria coisas que não existem, mas se aproveita de elementos reais para aumentar a visibilidade em torno do filme e despertar interesse.”

Por que Cannes importa?

Ana Paula Sousa afirma que a seleção para a Palma de Ouro é uma “conquista comparável a uma final olímpica”.

A visibilidade conquistada em Cannes costuma se traduzir em novas oportunidades para filmes produzidos fora dos cinco maiores estúdios de cinema — Universal, Paramount, Warner Bros., Disney e Sony.

“Não existe nenhum festival do mundo com tanta imprensa. Nenhum tem um volume de matérias publicadas tão grande quanto o de Cannes”, diz.

Além do glamour, Cannes é mercado. O Marché du Film, evento de mercado do festival, é o maior polo de compra e venda de direitos cinematográficos do mundo.

“Cannes ainda é a principal vitrine de cinema para filmes não hollywoodianos. E isso vai além do cinema de arte”, explica. “As franquias já têm uma distribuição garantida. Mas no mercado onde uma empresa produz e outra distribui, Cannes continua sendo uma Meca.”

Ela aponta que o prestígio internacional repercute também no mercado interno. “Pode parecer colonial precisar dessa validação externa, mas também é natural. As pessoas pensam: ‘Se está chamando a atenção de tanta gente, deve ser interessante’.”

Burburinho como estratégia

A distribuição é uma das etapas mais determinantes da cadeia produtiva do audiovisual, afirma a pesquisadora Hadija Chalupe da Silva, professora de Cinema e Audiovisual da ESPM Rio e autora do livro O Filme nas Telas — A Distribuição do Cinema Nacional.

Em sua pesquisa, Silva propôs quatro modalidades principais de comercialização de filmes no Brasil: grande lançamento, lançamento médio, lançamento de nicho e filme para exportação. Apesar de se sobreporem, essas estratégias ajudam a entender como os filmes são posicionados no mercado.

“No modelo do blockbuster, o filme é lançado em muitas salas simultaneamente para atrair o público logo no início, evitar a pirataria e recuperar o investimento com rapidez”, afirma. “Mas isso exige muito investimento. No Brasil, disputar de igual para igual com Hollywood é sempre um desafio.”

Já o lançamento de nicho segue lógica oposta: aposta na “cauda longa”, com menos cópias e maior permanência em cartaz. O sucesso depende do boca a boca e da recepção inicial.

“A primeira semana é crucial. As salas comparam a ocupação com a média do ano anterior. Se o filme atinge ou ultrapassa essa média, continua em exibição”, detalha a pesquisadora.

Por isso, os festivais de cinema são cruciais: eles são prestígio e ampliam as possibilidades de circulação dos filmes brasileiros.

“Os festivais são espaços de descoberta. Revelam novos realizadores e obras com potencial de impacto na cinematografia”, diz. “Dependendo de onde o filme é exibido, ele ganha chancela, ganha legitimidade.”

Assista ao trailer de 'O Agente Secreto'

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Produtora de 'O Agente Secreto' celebra os prêmios em Cannes

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